Quando o Akio Morita viu pela primeira vez o protótipo de seu walkman, olhou para o grande bolso vazio de sua camisa branca de executivo e disse:
"Caraca! Ainda vou fazer ele caber aqui dentro!"
Sim, ele disse "Caraca!" em japonês...
Brincadeiras à parte, sou um grande admirador do trabalho do fundador da Sony. O walkman foi apenas mais uma de suas famosas e admiráveis criações. Que eu saiba, este pequeno reprodutor de fita cassete foi o primeiro produto eletrônico de consumo a atingir o sucesso em escala planetária. Faltou exportar para a Lua. Seria o iphone dos anos 80 se a Sony tivesse a exclusividade tecnológica. Alguns detalhes desta maravilha: O seu "chassis" era baseado em um pequeno gravador cassete usado por jornalistas. E o grande diferencial técnico estava no uso de fones de ouvido de boa sensibilidade que baixava consideravelmente o consumo das pilhas. Que pena para a Sony, a idéia era fácil de copiar...
O Brasil Grande
Volta e meia a história da Sony me vem à cabeça. Li o livro Made in Japan mais de uma vez, foi meu livro favorito durante muito tempo. Não sou do tipo nacionalista, até porque me considero mais brasileiro do que descendente de japonês, ao contrário de alguns da minha família. Mas gosto muito da história que este livro narra, é a saga da empresa e de seu fundador em um país cheio de dificuldades. A Sony cresceu e revolucionou os produtos eletrônicos de consumo e quebrou um forte paradigma da época: o Japão produtor de cópias de máquinas
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Na Suécia antes do nome walkman vingar em todo mundo |
Eu nasci em 1965. Quando criança, fui apresentado ao nosso país dentro da escola durante a década de 70. Alguém se lembra das aulas de Moral e Cívica? É, ensinavam sobre o Brasil Grande. Todos da minha geração cresceram ouvindo que o Brasil era o país do futuro. Acreditávamos, pois víamos grandes construções de concreto serem iniciadas por todos os lados. O governo militar era o pai de todos. Para uma criança isso era impressionante. E nos foi prometido um futuro.
Dá para entender a profunda frustração que passamos hoje?
A minha geração acabou e a próxima não terá um futuro bom
Todos da minha geração acreditaram - alguns ainda acreditam - que o Brasil é o país do futuro. Não quero politizar o tema, mas como não fazê-lo? Toda esta crise econômica que vivemos hoje - com forte reflexo na estrutura social - vai continuar durante um bom tempo. É o resultado das decisões políticas tomadas erradamente. O partidão optou por um modelo econômico que não traz desenvolvimento para a indústria nacional. Nunca veremos uma história como o da Sony se repetir em território brasileiro. Preferimos construir shopping centers do que estimular a fabricação de produtos Made in Brasil. É o nosso modelo baseado no estímulo ao consumo interno e de desestímulo da produção de bens de capitais. A indústria nacional (não falo apenas do áudio) está acabando. Os fabricantes nacionais que se tornaram importadores, agora se sentem traídos pelo grande capital e estão à beira do abismo gerado pela taxa de câmbio. Será que a grande indústria voltará a produzir como antes? Virar a face da moeda? Difícil prever.
São muitas questões a serem respondidas antes de dar o próximo passo. Pena que a nova geração não tem a menor ideia do que eu estou falando... O meu sobrinho está entrando na fase adulta. Ele é de uma geração que já nasceu consumista e que não dá a mínima para a origem dos bens. Afinal, o mundo da globalização não faz questão de explicar os muitos detalhes da geração da riqueza, da dependência tecnológica etc. Não faço aqui um julgamento de valor da nova geração, é apenas uma observação. Entre eles há muito pouco questionamento sobre o nosso way of life. E sem este questionamento, diminui a vontade de revolucionar por conta própria. E de empreender, de inovar. Por isso afirmo: o futuro em 20 anos não será bom. E mesmo que o jovem queira empreender, não é estimulado. E quando quer crescer por conta própria, é derrubado. Veja um exemplo, o vídeo sobre a regulamentação da emenda constitucional que está arrasando com os pequenos empreendedores. Muitos dependem do comércio eletrônico com os Estados de fora de sua origem. Eles realizavam dez, vinte vendas diárias de pequenos valores. Incrível como o nosso governo conseguiu, em uma única tacada, arrasar com o produtor de miçangas do interior de Alagoas (contrariando o "espírito" da lei que pretendia proteger as regiões de baixa produção) e também o pequeno fabricante de fontes de alimentação da grande capital. Strike nacional, sem preconceito regional ou de nível tecnológico.
Como será possível surgir por aqui uma Hewlett-Packard? Apple ou outra empresa de tecnologia a partir de jovens estudantes com muito tesão, com uma ideia simples na cabeça e um fundo de quintal para iniciar? E não me venha falar em startup's... Estou falando de produtos de verdade, de uma empresa que quer prosperar e se tornar sólida. Estou falando do nascimento (ou renascimento) da indústria de produtos com alto valor agregado - geralmente é o caso de uma empresa de tecnologia. Estou falando sobre know-how feito aqui dentro, sem manual ou diretriz de uma empresa mãe. Me arrisco a abrir o leque além do hi-tech. Viva o lo-tech! (Um dia falo sobre isso...).
Ok, e o que tudo isso tem a ver com o nosso circuito de hoje?
Em um recente encontro com meu amigo Branco, que além de bom técnico também é guitarrista, mostrei pela web o Smokey Amp, um pequeno amplificador de guitarra montado dentro de um maço de cigarros... É isso mesmo, você ouviu certo! Foi o que eu disse (também) para o Branco. Ele ficava rindo, incrédulo (você também está rindo?). Quem iria comprar isso, ele disse. E eu respondi: qualquer um! Claro que é um brinquedo, e quem não gostaria de ter um brinquedo deste no bolso? Ele continuou rindo... E depois de explicar alguns detalhes para ele, ainda repeti: Este amplificador cabe no bolso, o maluco que inventou simplificou o circuito ao máximo e usou como "chassis" um maço de cigarros comum, de papelão mesmo (em vez de um gravador, como teria feito o Morita...).
Bem, o Smokey Amp custa uns 34 dólares, lá. A versão no maço de cigarros vendeu 200.000 unidades! Não tenho certeza, mas acho que li que foram vendidas 3 milhões de unidades contando com as outras versões com gabinete de plástico. Então eu disse para o Branco: Vamos montar um negócio! Começamos a discutir os prós e os contras sobre a fabricação de um micro amp, depois de um amplificador médio, e acabou que neste mesmo encontro o Branco comentou algo sobre a nova lei do ICMS. Depois fui ler à respeito... Foi um banho de água fria... Impostos, o alto custo dos correios, e agora temos que arranjar mais tempo para a burocracia?!
Não dá nem para iniciar um negócio ultra simples neste país? Este amplificador vai acabar custando muito caro pelo que ele oferece.
Eu ainda não desisti desta e de outras ideias que vou publicando por aqui. Ou talvez deixe para o meu sobrinho desenvolver!
Sobre o circuito original
É claro que o nome Smokey Amp pertence ao Bruce Zinky, seu criador. Ele é um americano que trabalhou na Fender. Dentro da pequena caixinha de papelão, ele colocou um LM386, dois capacitores eletrolíticos, um alto-falante de interfone, uma bateria de 9V e dois jacks. O circuito foi simplificado ao máximo, pode até oscilar. O meu protótipo no protoboard (vide foto) fazia ruídos estranhos, mas depois estabilizou. Vou acrescentar um capacitor de 100nF desacoplando a fonte e talvez coloque um buffer na entrada, talvez mais um... Bem, aí vira um Ruby ou Little Gem... Ainda bem que já tenho a licença deles no Brasil...
O coração do Smokey Amp está no LM386, um amplificador de áudio integrado que soa muito bem para uma guitarra quando esta satura o amplificador. E é muito fácil de saturar, ele está configurado para um ganho bem elevado. O LM386 não é um dos melhores em termos de ruído, mas é muito simples de usar, basta poucos componentes periféricos para fazê-lo funcionar. É muito usado em outros circuitos que devem ser simples, de baixo custo sem a exigência de alta qualidade. Amplificadores de fones, alarmes etc. A sacada do Bruce Zinky foi testá-lo para guitarra. Monte o seu e me diga se gosta do som! É claro que você vai gostar!
Testando o circuito e escolhendo uma caixinha mais adequada |
Muito legal!
ResponderExcluirParabéns pelo excelente texto,e por verbalizar a frustracão diaria,de quem vive num pais sem estimulo a criatividade e ao empreendorismo.